Acentua-se a redução da disponibilidade de Habitação para Estudantes em Portugal!
Vêem os empréstimos para estudar serem recusados, esperam pela bolsa para não desistirem do curso e chegam a ser enganados pelos senhorios, que lhes atribuem despensas como quartos. Entre a elevada procura e a pouca oferta, os universitários vão-se sujeitando: “Os preços estão exageradamente caros”, lamentam.

João Jesus, natural de Ribeira de Pena, entrou no ensino superior no ano passado e ficou colocado onde queria: curso de Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Apesar da felicidade inicial, o facto de ter mais dois irmãos gémeos (um deles também na universidade) fê-lo questionar se suportar todas as despesas não seria demasiado esforço para os pais. Mesmo com um part-time no Verão e os 50 euros de gorjetas que consegue em dois meses, sabia que o que ganhava não chegava para ajudar.
Começou por se candidatar a uma bolsa de estudos e às residências da universidade antes do início das aulas. No início de Setembro, dois dias antes de saber das colocações, conseguiu. Recebe 87,20 euros por mês, valor que cobre o custo do quarto na residência (70 euros) e parte do valor da propina que, neste momento, está nos 69,70 euros. “Antes de saber se tinha direito já andava à procura de quartos. Mas a resposta foi rápida. Por acaso tive sorte”, reconhece.
Mafalda Rocha, por outro lado, não teve a mesma sorte. Vive em Santa Maria da Feira, em Aveiro e, em 2020, ficou colocada em Lisboa, na Nova Medical School. Entre os resultados das colocações, que a apanharam de surpresa, e a primeira semana de aulas, viu os empréstimos que o pai pediu aos bancos serem rejeitados e usou como último recurso pedir dinheiro emprestado a familiares.
“Não sabia o que fazer. Tive amigos meus cujos pais foram juntando a vida toda e criaram contas específicas para irem para a faculdade, mas quando a pessoa não tem muito dinheiro e não juntou para isso diria que é impossível continuar a estudar”, refere.

Neste momento, está a pagar 340 euros por um quarto em Telheiras. Ainda assim, acredita, é um valor muito abaixo do mercado actual. “Hoje em dia, não existem quartos decentes em Lisboa por menos de 450 euros. Mas também há quartos a 900”, revela.Parágrafo Novo

Consciente dos custos, diz que só não desistiu da Medicina a pedido do pai, que continua a esforçar-se para pagar as despesas, que facilmente superam os 600 euros por mês. Mas para certos jovens, como é o caso de Soraia Oliveira, ficarem colocados longe de casa faz com desistam do curso que querem e tenham de escolher outro mais perto de casa dos pais.
A jovem de 20 anos já sabia que a média do secundário era uma entrada segura para o curso de História, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, mas também sabia que sem uma bolsa de estudos não poderia sair de casa da mãe, em Viana do Castelo.

“Já sabia que ia entrar, porque tinha uma média superior. Mas mesmo com toda essa certeza estive o Verão todo sem saber se conseguiria ou não ir para a minha faculdade de sonho, porque só ia ter uma resposta da residência e da bolsa depois de ter entrado.”
Com uma situação económica “complicada”, que a faz depender exclusivamente da mãe, não chegou a procurar quartos na cidade e, a uma semana de começar as aulas, recebeu a resposta que não tinha direito a bolsa. “Vivo a mais de 55 quilómetros do Porto, que é o mínimo elegível para ter residência”, explica. A partir daqui restavam-lhe duas opções: candidatar-se à segunda fase do mesmo curso em Braga, o que lhe permitiria ir e vir a casa todos os dias, ou expor toda a situação à FLUP e tentar que lhe atribuíssem bolsa antes do início do ano lectivo. Acabou por conseguir este apoio e residência dois dias antes do início das aulas.

Pouca oferta leva jovens a viver em despensas
O aumento generalizado dos preços das rendas, a oferta reduzida e a elevada procura estão a forçar os jovens a aceitarem alojamentos degradados e com poucas condições.
Em Vila Real, por exemplo, Helena Menezes conta que, em dois anos, mudou de casa duas vezes — e que a segunda, apesar de mais barata, tem a desvantagem de ser muito mais antiga. “É bom ressalvar que as casas que nós arrendamos são casas para estudantes. São casas que não estão sujeitas a obras pelos senhorios. Se uma família fosse viver para uma casa daquelas, certamente que ainda se queixava do dinheiro que pagava”, conta, acrescentando que o valor da renda são 125 euros sem despesas.

Na mesma linha, o aumento da procura por alojamentos para estudantes resulta num negócio altamente rentável para os proprietários, que as publicitam por preços elevados. Há também casos de anúncios de quartos em sites de compra e venda de casa fidedignos, que publicitam fotografias e valores de outros imóveis que realmente existem, mas que não são os que estão a ser arrendados. Afonso Couto, de 21 anos, foi um dos jovens apanhados neste tipo de esquema.
Em 2021, um dia antes de as aulas começarem, ficou colocado no Instituto Superior de Agronomia (ISA), em Lisboa, e teve de encontrar casa o mais rapidamente possível. Ainda na Trofa, de onde é natural, encontrou um quarto aceitável por 255 euros e pediu à namorada, que já estava em Lisboa, para ir visitar o quarto e ver se as fotografias correspondiam à realidade.

Aceitou depois de saber que as fotografias eram, de facto, verdadeiras, mas quando chegou à casa deparou-se com uma despensa convertida em quarto, que não tinha janelas nem privacidade, já que em frente à porta estava a única casa de banho da casa onde viviam mais quatro pessoas.
“Achei que seria uma casa estudantil, mas afinal morava com dois senhores reformados, que não eram donos da casa, e outras duas pessoas”, explica. Além disto, havia um outro quarto alugado ao mês a turistas e funcionários da Glovo e Uber.

O preço também aumentou de 255 para 300 euros, fora as despesas com alimentação e transporte que rondavam o mesmo valor. Consciente de que foi burlado e de que estava refém da pouca oferta, acabou por ficar com o quarto durante o resto do ano lectivo e não denunciar a situação por não ter contrato ou factura que comprovassem que estava a arrendar o espaço.
“Estava de mãos atadas porque o resto era muito mais caro. Ela [proprietária] disse que eram seis metros quadrados, mas nem sabia quanto é que isso era. Aceitei e arrependi-me”, revela.
O aumento das residências privadas 👇
Ao mesmo tempo que os jovens se deparam com a dificuldade de encontrarem alojamentos, o negócio das residênciasprivadas tem vindo a aumentar nos últimos anos, em cidades como Lisboa e Porto, com preços não muito diferentes dos praticados pelos proprietários das casas.
“Em geral, o valor médio dos novos arrendamentos em Portugal subiu 7,2% só em Agosto, face a Julho deste ano”, explica 👉 Luís Cura, agente imobiliário na Century 21. Se compararmos Agosto de 2021 com o período homólogo de 2020, “verifica-se um aumento de 38,6%”, acrescenta. Neste momento, o preço médio por um quarto em Lisboa situa-se nos 381 euros. No Porto são 324 euros mensais, segundo o Observatório do Alojamento Estudantil, da start-up portuguesa Alfredo Real Estate Analytics.
Apesar da procura, explica 👉 Luís, não é vantajoso para estas empresas terem um segmento de mercado exclusivo para alojamento estudantil. Tal como os arrendamentos para férias, “é muito sazonal”, acrescenta.
Paralelamente, nos últimos anos, são várias as empresas estrangeiras que apostam na construção e aluguer de residências privadas para estudantes. U-hub, HouzeStudent e Livensa Living são algum dos exemplos.
O preço para arrendar um quarto numa destas instalações, que oferecem serviços como ginásio, sauna, piscina, sala de multimédia, lavandaria, limpeza ou vigilância 24 horas, pode ir até aos 815 euros. No caso da U-hub, por exemplo, os preços mais baixos começam na casa dos 525 euros, segundo dados do site.

A Livensa Living, uma das empresas focadas neste sector, admite que o mercado imobiliário em Portugal é vantajoso neste sentido, tendo em conta o “aumento progressivo do número de estudantes inscritos na universidade”, esclarece no comunicado enviado ao P3.
Apesar de não revelar números sobre a taxa de ocupação, garante que a mesma é elevada e inclui maioritariamente estudantes portugueses, brasileiros, espanhóis e italianos.
Os preços das cinco residências da Livensa Living – espalhadas por Lisboa, Porto e Coimbra – variam consoante o distrito. Arrendar um quarto em Coimbra tem um preço base de 460 euros e em Lisboa pode ir até aos 745.
Preços são mais baixos no interior👇
Os preços dos arrendamentos são mais baixos no interior do país, como é o caso da Guarda, onde o preço médio das rendas ronda os 100 euros. Castelo Branco e Viseu são dois dos distritos com rendas mais baixas, salienta 👉 Luís Cura.
Daniela Barbosa, natural de Guimarães, mudou-se para Seia em 2020 para frequentar o curso de Restauração e Catering no Instituto Politécnico da Guarda (IPG). A jovem de 22 anos conta que, apesar de a oferta na região também ser reduzida, preferiu sair da residência da universidade, onde pagava cerca de 80 euros por mês, e dividir uma casa com mais duas estudantes por 100 euros sem despesas.
“Há pouca oferta, o que influencia muito os preços. No meu caso, consegui barato, porque foi por intermédio de outras colegas”, afiança, acrescentando que o valor das casas na região pode chegar aos 250 euros sem despesas.
Contudo, há quem pague menos do que isto, como é o caso de Pedro Nuno Santos, de 25 anos. “Os preços estão elevados, mas encontrei uma casa que até nem ficou muito cara. Estou a pagar 75 euros só de renda, e divido [o alojamento] com mais três rapazes”, refere o estudante de gestão hoteleira em Seia.
O cenário é transversal a todo o país. É cada vez mais difícil ser estudante deslocado, garantem. “Este ano, ainda vai ser pior. As coisas estão mesmo absurdamente caras”, lamentam.
FONTE: Publico e LCC
Luis Cura
Ajudo Pessoas, sou consultor imobiliário
Century21 Arquitectos
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